quinta-feira, 12 de abril de 2012

As Brumas do Oriente

Dizia-se que quem possuísse as mágicas Gemas do Dragão comandaria as tropas através do pó e além da vastidão do mar. Ouvira-o em histórias e canções de guerra, numa noite sem luar, em torno de uma fogueira e à beira da estação que carregaria os ventos gelados e as tempestades do norte.
Em breve, as asperezas do Inverno ameaçariam as casas e o gelo avançaria sobre as águas espelhadas, diminuindo drasticamente as chances das buscas, se não as tornasse numa missão impossível.
O guardião das gemas era o próprio dragão, Deus dos oceanos, dos mares, dos rios e dos lagos.
Habitando as moradas submersas que quisesse, navegava sob os mantos azuis, atravessando grutas profundas, cruzando os céus quando precisava e voltando a mergulhar quando entendia. Flutuava entre os destroços de palácios revestidos de algas e engolidos pela fúria das águas, coroado por elevados tetos abobadados e rodeado de esquecidos tesouros refletidos nas suas escamas.
Não passavam de mitos, mas aqueles eram tempos conturbados, acumulados de dor e infelicidade. E os tempos de escuridão eram lembrados por trazerem consigo réstias de esperança e utopias.
Pensava nisso, resguardado do frio por grossas mantas que se abatiam sobre o seu corpo, desejando a queda do império, os seus inimigos derrotados e, quem sabe, o esplendor da coroa e do bastão do Grande Rei, do Imperador, a glória do próprio Deus do Sol para si!
Ignorava as sombras dos ramos que atravessavam a janela do seu quarto e se debatiam nas paredes nuas, desenhando cenários ameaçadores, os uivos do vento cortante, que gelavam a própria alma e escapam das frinchas para oscilar a vela em cima do móvel, e também a luz sombria e misteriosa que descia dos astros na noite escura.
Desdenhava os sinais do perigo que lhe eram revelados com complacência e a humildade que os seus pais tinham-se esforçado por lhe transmitir. Já não se importava com nada disso. Era tarde demais! A benevolência não os salvara da tortura e do ferro das espadas que tinham jurado fidelidade ao povo.
Certificar-se-ia de que os culpados cairiam perante o peso do seu punho e conhecessem a mágoa e a vingança que o tinham moldado. Levaria à sua frente quem e o que quer que fosse que se lhe atravessasse no caminho. Era o que tinha prometido...

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