terça-feira, 24 de julho de 2012

A noite é uma criança (5)

Tabor apoiou as mãos na parede e espreitou para o interior da passagem. Não conseguiu vislumbrar um palmo em diante de tão escuro que estava, não tendo outra alternativa senão prosseguir às cegas, tateando a viscosidade repugnante que se colava à pedra.
Ao mesmo tempo considerou a hipótese de, a qualquer momento, deixar de existir folga de ar se o escoadouro ficasse completamente submerso. Era um cenário sinistro, na verdade! Felizmente que a largura do buraco era mais ou menos a mesma que a do seu corpo, o que lhe dava algum sentido de segurança pois assim seria mais difícil deixar escapar eventuais bifurcações que pudessem existir.
Prosseguiu lentamente, movendo as águas com dificuldade. Com o tempo habituou-se ao cheiro pestilento, mas não conseguia ignorar a frequência com que algo embatia nas suas pernas e que seguia curso atrás de si. Apesar de muito súbtil, era evidente o sentido da corrente na sua direção.
Sentia-se ansioso por ar fresco e também por luz! Perdera, por completo, a noção do tempo e, por pouco, o sentido de orientação. O canal não seguira em frente, como devia ter calculado, mas pelo menos não tinha havido desvios múltiplos e o nível da água baixara francamente. Se não se tinha enganado em nenhuma altura, tinha virado à esquerda e depois à direita, quando sentiu que deixara de seguir em linha reta, curvando ligeiramente no sentido nordeste, achava ele... Já devia ter atravessado as muralhas há muito tempo, seguindo agora para o pátio exterior ou, quem sabe, para o interior do próprio palácio!
Ouviu, então, o som de água a cair. Um gotejar espesso que ecoava à sua volta. Quase instantaneamente, bateu com o pé em algo duro, e que identificou de imediato como sendo uma parede. Parecia que chegara a um beco sem saída.
Tabor estava confuso. Não tinha chegado até ali para nada! E ainda havia a questão do som da água a cair por resolver...
Percorreu com as mãos toda a extensão da parede à sua frente e as laterais, procurando a origem do escoamento. Foi no teto que descobriu uma espécie de grelha, por onde podia enfiar-se tendo em conta o tamanho do buraco. Empurrou-a, embora com pouca fé, e surpreendeu-se quando sentiu a grade ceder uns milímetros. Mais animado forçou-a com vários movimentos bruscos, conseguindo finalmente que esta se soltasse.
O estrondo ecoou por todo o lado, sobre a sua cabeça, deixando-o, de certa forma, inquieto. Só depois de alguns minutos na expetativa é que achou seguro empoleirar-se pelos braços e elevar-se pela abertura.
Lá em cima continuava escuro como breu, mas sentia que a galeria era agora bem maior, a julgar pela amplitude do eco que se propagava.

Sabem uma coisa? Estou completamente perdida! Depois de arejar um pouco voltarei para tirar o Tabor desta embrulhada...

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