segunda-feira, 11 de junho de 2012

Fragmentos medievais

As ondas rebentavam contra o casco, salpicando a amurada da embarcação. O vento estivera a favor, facilitando a navegação, o que lhes deu algumas horas de avanço. Dali, conseguia ver a costa entrecortada por falésias que o mar esculpira ao longo dos séculos. Para trás, a terra estendia-se por campos rasteiros, sem se distinguir nenhum vale ou elevação, até cair novamente no oceano.
Também ele tinha sonhado, visões que estava cada vez mais perto de entender...

A música animava o acampamento, sendo quase impossível resistir-lhe. A noite estava quente e o ambiente era alegre. Homens, mulheres, os mais velhos e os mais novos saltavam sobre a relva, uns com ritmo, outros desordenadamente; estes erguiam as canecas de cerveja entornando mais do que conseguiam beber. Ninguém estava atento o suficiente para se aperceber daqueles que não compareceram na dança de grupo, para se encontrarem na última tenda...

Algo na floresta despertara, apesar da noite estar bem avançada. O luar penetrava através das árvores centenárias, propagando o seu brilho no tapete de musgo onde ambos se deitavam. As nascentes murmuravam, um grilo cantava próximo dali e os galhos estalavam, num e noutro momento. E por detrás de um arbusto, confundindo-se com as sombras da madrugada, um ser ainda mais antigo vigiava, protegendo a serenidade do bosque, acalmando-o com o seu olhar celeste e a delicadeza do seu semblante...

Atirada contra a parede fria dos subterrâneos da fortaleza, embrenhada na escuridão, ela pensou pela primeira vez nos pais. O que estariam eles a fazer? Provavelmente a sua mãe tricotava sentada no alpendre, por vezes perdendo o olhar vazio no vasto oceano em diante, e o seu pai... o seu pai estaria à procura, agora não de um, mas de dois filhos. Não imaginava a desolação do destino que lhes tinha causado, e do seu próprio dali por instantes. Já ouvia o eco das correntes e dos pesados passos no corredor, cada vez mais e mais nítido...

O ressoar do chifre lançou-se sobre a planície como um trovão, marcando o início da guerra no crepúsculo. Os cavalos esperavam ansiosos no topo da colina. Num deles, montava Tenemur, e ao seu lado, como sempre, estava o seu companheiro e fiel amigo de todos os tempos, Wolfric. Podia ver-lhe a tez incendiada pela ânsia da batalha por travar e por fazer desabar o seu pesado machado sobre quem se lhe atravessasse no caminho. Devia-lhe a vida, mais do que uma vez, e em breve talvez tivesse a oportunidade de pagar a sua dívida. Se os céus o permitissem, ou o próprio Wolfric...

O seu vestido irradiava chamas de cor, rodopiando sobre o estrado, descobrindo um pedaço de pele aqui e ali, os cabelos sacudindo sobre o rosto e os braços, que alçava com alguma provocação entre olhares despidos de pretextos. Fazia tanto tempo que não a via sorrir, mordendo ligeiramente os lábios rosados na sua direção. Desejava-a todos os dias, e aquela noite não era exceção...

O que eu escolhi desta vez, foi algo bem mais desordenado. Já não faltavam os contos soltos... Escrevi com o coração, com maior ou menor sentido, ao ritmo de uma coletânea de músicas celtas, que definiram o conteúdo dos parágrafos despegados que aqui estão. Nem tão pouco estão com a revisão feita, por isso perdoem as incorreções. O que eu sentia falta desta liberdade...

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